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MANUELA D'AVILA

O que te fez decidir entrar na política tão jovem?

Em primeiro lugar, porque amo meu país. Aos 16 anos de idade eu decidi me filiar a um partido político porque me dei conta que não era justo que eu tivesse acesso ao ensino superior, por exemplo, enquanto milhares de outras pessoas não tinham acesso as mesmas oportunidades. E o Brasil é um país extraordinário, com riquezas naturais, diversidade, com um povo que trabalha muito. O que me fez decidir entrar na política é o mesmo sentimento que me move atualmente: trabalhar por um país mais justo, com menos desigualdades.  

 

Como você acha que a mulher é vista política?

Precisamos de mais mulheres na política no Brasil para melhorar a política no Brasil. Nós ainda temos que percorrer um longo caminho, não só o de chegar nos espaços de poder. Quantas mulheres lideram suas bancadas? Quantas mulheres presidem comissões? Falta espaço para mulheres mesmo depois que elas conseguem vencer a barreira eleitoral. Além da educação que não é direcionada para que nós participemos da Política, falta tempo para grande parte das mulheres. Nossa jornada é surreal por conta de tantos afazeres. Os partidos precisam financiar, cada vez mais, candidaturas de mulheres.

 

Quais são as batalhas que você vem travando no âmbito política em defesa das mulheres?

 

Eu não era feminista. Eu acreditava que isso era assunto do passado, da geração de minha mãe, que largou a faculdade para casar, que “desquitou” para voltar a estudar, que aguentou dedos na cara e o desemprego e desamparo por criar sozinha as filhas. Eu já era militante, sou militante desde os 16, eu já acreditava que o mundo era desigual, que precisávamos lutar por justiça social e, mesmo assim, eu não era feminista. Mas a vida - e suas permanentes portas abertas a quem aceita mudar e se mudar - fez com que eu percebesse que a desigualdade econômica e social no Brasil atinge de forma muito mais cruel às mulheres. A vida fez com eu tomasse consciência que aquilo que eu e outras mulheres vivemos não era algo que acontecia com uma de nós, mas com todas nós. Tomei consciência que não era só comigo. Não era só com ela, mas que É com todas. Nossa radicalidade está justo em lutar pela equidade, pelos direitos iguais, pelo nosso direito à vida sem violência, pelo direito à sermos donas de nossos corpos e mentes.

Ao longo de sua carreira quais foram as maiores dificuldades enfrentadas por você que, no fundo, sabia que era apenas por ser mulher?

Estou indo para a minha sétima eleição e ainda vejo as surpresas de muitos ao me ouvirem falar sobre macroeconomia, gestão pública, previdência e outros temas complexos. O descrédito e desconfiança em relação às mulheres ainda é muito presente na nossa sociedade machista.

 

Desde o início da sua carreira, quais foram suas maiores vitórias até então?

 

Ser mulher, por si só, já é uma dificuldade. Na política, somos 10% dos parlamentares. A mulher é vista com outros olhos, primeiro é preciso mostrar a nossa capacidade para ir conquistando espaço aos poucos. No começo foi bem difícil para mim, mas consegui ocupar meu espaço. Mais que as vitórias eleitorais, tenho orgulho da minha trajetória que vai além da questão da resistência. Sou autora de diversos projetos pioneiros, desde a época de quando eu era vereadora de Porto Alegre, como o projeto “vou à escola”, que garante passe livre aos estudantes de ensino médio; e a Lei do Estágio, quando deputada federal.

 

Diante de todos os nomes para a pré-candidatura à presidência, você é uma das únicas mulheres. O que isso significa para a sua vida e para a representatividade feminina na política?

 

Serei a única mulher de esquerda candidata e as mulheres representam 53% do eleitorado brasileiro. É um quadro que precisa ser equiparado. O tema das desigualdades será central na campanha. E uma das lutas será pela diminuição das desigualdades entre homens e mulheres.

 

A corrida para a presidência não é algo fácil, há toda uma exposição e as pessoas enfrentam diversas críticas, principalmente online. No caso das mulheres, isso parece ser um pouco pior. Como você tem encarado essa situação?

 

A eleição não pode ser um espaço de acirramento de crise, mas um espaço de construção e soluções.

 

Em 2016 uma foto sua amamentando a Laura viralizou pelo mundo inteiro. Por que você acha que isso gerou tamanha repercussão? Qual foi a importância da viralização desta foto para você?

 

Decidi amamentá-la exclusivamente até os 6 meses. Era um dia normal na Comissão de Direitos Humanos e ela começou a chorar, chorar, e eu estava no meio da fala. Fiz o que todas as mães fazem: resolvi o problema dela. Amamentar não era um ato político. A repercussão dessa foto fez com que eu tivesse a dimensão de como o ato de amamentar é um tabu na nossa sociedade, que objetifica o corpo das mulheres. Cumprir a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é algo visto como um absurdo, um erro. Acho que aquele episódio ajudou a naturalizar mais um ato que é tão singelo e nobre.

Desde sempre - e especialmente hoje com essa nova agenda eleitoral - Laura está presente em todas as suas viagens. Muitas brasileiras vivenciam esse mesmo cenário, porém, milhares de mulheres vivem a situação oposta em que não têm a oportunidades de levar seus filhos consigo. Como você acha que a sua imagem de mãe e política é vista pelos cidadãos? Acredita que a sua "dupla jornada" de trabalho ajudou a criar um certo tipo de identificação entre você e as brasileiras? Como funciona essa jornada para você, recebe algum tipo de ajuda?

 

Não há como as mulheres participarem mais da política se a política não for um espaço acolhedor das crianças. A prioridade de uma mãe jamais será o trabalho. Será o filho! Por isso não abro mão de estar com a minha filha o máximo de tempo possível.

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